As questões que seguem este escrito são de cunho filosófico e existencial.
Muitos dos problemas que me assombram e me afligem, tanto em sonho quanto em caminhada dos últimos anos passam por questões de vivência e de troca de experiência - do homem com a natureza e tudo que o rodeia (como máquinas, cidades, cheiros e químicos).
A ideia de que cada serzinho que chega à existência neste planeta têm a percepção flagrada de sentidos em cheque e de nervos em micro explosões contínuas e constantes para aprender e apreender a vida no melhor de sua capacidade me deixa, no mínimo, no átimo, atônito.
Mas isso tudo é pequeno (é esquecível até!) quando vivo o corpo em sua excitação primordial: o movimento. Depois de dias de pesquisa sobre terapias do corpo, da Yoga, Qi Qong e respirações, comecei a compreender melhor de onde a energia flui, dentro, e onde ela chega, fora. E fui apreciando cada vez mais experiências ínfimas que vivi no passado. Fui entendendo o valor que o silencio ou a falta de estimulo pode trazer para a alma e para o corpo. Comecei então a desenvolver uma espécie diário de pequenas sensações, ou melhor dizendo, diário mental de pequenos momentos. Momentos da vida que o corpo silencia e não consegue mais agir para dar lugar a sentidos escondidos / adormecidos. Esses momentos são os que eu gostaria de eternizar.
E logo penso: como todo desejo e volúpia têm no seu cerne algum toque de vício, me sinto portanto um drogado nesta busca de momentos “picos”.
Assim sou
Assim me encontro
Assim me esqueço de ser e viro outro
Me metamorfoseio. Ou tento? Ou não quero ser eu mesmo? Ou é impossível correr de quem sou ou serei? Sei que escrever isso me aperta o peito. A minha mão busca rapidamente outras teclas para mudar de assunto mas a minha alma, pois nem o coração nem a mente me pertencem nesse momento, me obriga a continuar. Quer me fazer ver, com os olhos, o que eu estou fazendo e o momento que estou experimentando. Vivo. Não distraia-se. Nem por um segundo. Permaneça a escrever.
Mas...sobre o que?
Releio o que escrevi até então sem precisar ler uma letra sequer, apenas passo os olhos nos parágrafos de texto antes deste que escrevo e me lembro sem precisar me esforçar dos últimos minutos que escrevi e do que pensava. Então não é necessário retornar ou reviver para saber e compreender. Apenas preciso olhar.
Preciso me resolver.
Seria a resolução uma abertura para a morte? Uma aceitação?
Mas me distraio do verdadeiro motivo do por que comecei a escrever este texto. Fiz uma viagem. Uma viagem que provavelmente será antecipada pelo leitor no título deste escrito. Foi na passagem do ano de 2017 para 2018. Viajei de carro, com uma câmera fotográfica, poucos planos lógicos, poucas paradas, pouca expectativa. Em certo sentido combina com o Sertão, tão pouco em sua primeira visita, em sua primeira noção...porém talvez o Sertão tenha algo que eu não tinha conscientemente em mim nas horas que passei de viajem. O sertão tem uma profundidade inigualável, inacabável.
Se a química e a física estão corretas, nossos átomos vem de estrelas que passaram por supernovas após a criação dos elementos necessários para a formação de vida e matéria. Cada ser humano tem dentro de si átomos de estrelas, cada um tem o universo em seu interior. Então assim, eu me abstenho do medo de me comparar com o Sertão. Sou vasto como ele e profundo e denso como as suas paisagens.
Lembro-me das vacas que, paradas na pouca sombra de duas arvores, impediam a passagem de nosso carro. Devagar, minha mãe acelerava, sem ousar disturbar os ouvidos de qualquer com buzinas ou outros sons. “O motor é suficiente”. E era. As vacas lentamente abriam alas para o nosso carro. Como aquela cena me fazia lembrar os hindus, pedi para que parássemos ali e saquei a minha câmera para registrar aquela tranquilidade e silencio. As vacas são animais para escrever um livro sobre.
Um jegue chega a aparecer no nosso canto esquerdo, como que um passante despercebido que encontrou uma situação inesperada, a sua pausa na